Quem faz o desfralde?

O ano inicia e a pergunta acontece: quando vai ser o desfralde?

                     Eu preciso dizer que a decisão não é dos adultos, e sim da criança. Nesses 30 anos trabalhando com a primeira infância, já escutei muitas mães garantirem que escolheram o dia de tirar a fralda dos filhos e conseguiram cumprir. Frustração para muitas, que se apavoram só de pensar no início do desfralde. Sentimento desnecessário. Gosto de brincar que não conheço adulto que usa fralda porque a mãe não conseguiu tirá-las aos dois ou três anos, porém, sabemos da importância desse momento e do cuidado que ele merece.
                   Na sala de aula, observo que, ao tirar a fralda, a criança dá um salto no crescimento emocional. O processo do desfralde é um momento em que a criança está entendendo o seu corpo, percebendo a sua necessidade e aprendendo o que fazer com o que está sentindo. São novas habilidades para a sua independência. Faz parte do desenvolvimento natural.
                        E como as mães conseguem escolher o dia? Provavelmente, são tão observadoras que  percebem a fralda seca durante muito tempo, os sinais que a criança costuma evidenciar de que já fez xixi e cocô. Eu arrisco em dizer que essas mães conseguem fazer uma tradução para as crianças sobre o que elas percebem no corpo e o que precisa ser feito. Assim, essas mães iniciam alguns estímulos com histórias, criam vínculos com o banheiro ou com o “troninho” e fazem brincadeiras que favorecem o sucesso das suas decisões. É claro que os filhos já estão maduros, fisiológica e emocionalmente, e, por isso, a retirada acontece.
                    Isso mesmo! Quando as crianças não estão maduras fisiologicamente o suficiente, o desfralde não acontece. Sentir-se segura para usar o banheiro também é um fator importante. Ela precisa se sentir suficientemente grande para deixar de ser bebê e passar a ser criança. É uma transição importante, que exige cuidado com a autoestima e a autoimagem da criança. Assim que ela começa a perceber o seu corpo, ela também iniciará as observações sobre o uso do banheiro para aprender como usá-lo. Para nós, adultos, parece tarefa fácil, mas, para a criança, não é. Imagine a criança ter que se lembrar de toda a sequência do uso do banheiro: abrir a tampa, descer a calça, usar o vaso, dar descarga, lavar as mãos… São muitas as habilidades comportamentais que devem ser aprendidas e lembradas. São experiências novas. É como iniciarmos em um novo ambiente de trabalho. Lembrar o passo a passo de determinadas situações ou aprender uma habilidade nova com a tecnologia que não estamos acostumados a interagir. O desprendimento de energia é grande e necessário para o desenvolvimento da nova habilidade. Por isso, são importantes para o desfralde a observação e o acompanhamento da evolução do comportamento da criança.
                         A escola é uma grande aliada da família para auxiliar no processo do desfralde, mas não pode ser a responsável por ele. O período é de intimidade com a família. É preciso que a criança vivencie diferentes situações em casa, evolua em suas percepções, para, depois, vivenciar as mesmas situações na escola. Dessa forma, ela se sentirá mais segura e tranquila e evitará a exposição.
                        Para muitos pais, é um período temido e acredito que ficou claro que o importante é observar e ter paciência com o período e respeitar o tempo de cada uma. Cada criança é única e singular, não existe “fórmula mágica” e não temos como apressar o processo.
Márcia Fregulia

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